VII

Imagem de João Lobo



VII


Na vida não podemos ser felizes ou infelizes, só. Acuse-se o Sr. Infeliz, ou o Sr. Feliz.
Há sim, momentos de felicidade e outros de infelicidade.
Quando conheci meu marido, senti-me a mais perfeita das mulheres – chamei-lhe de dia feliz. Quando percebi que tinha medo da vida, senti-me a pior de entre as mulheres – foi sem dúvida um dia infeliz.


Mas pior que momentos de infelicidade, são as sensações de medo, de angústia, de perda, de culpa, sem que as possamos justificar.

Aconteceu-me há dias. Estava no trabalho, o telefone tocou. Não falaram, desliguei. Voltou a tocar, o alguém do outro lado voltou a não falar. Insisti e nada. Apenas lhe consegui perceber a respiração calma e compassada.
Chamei a isto um engano, simples engano.
No dia seguinte voltou a acontecer. E nos dias que se seguiram, também.
Chamei a isto um medo, o terrível medo da solidão. Conheço-o bem, sacana.
Conheço-te tão bem que até sei quando chegas e quando te vais. Consigo ver-te, sentir-te e no dia em que te consegui tocar, tu irás embora, para sempre.

Consideram-me maluquinha. Ouvem-se vozes “está a ficar maluca” , “precisa de ajuda”, “tenho pena”, “coitada”, mas não. Não, eu não estou maluquinha... Só preciso encontrar a minha alma perdida.

- Larguem-me. Entendam, só preciso encontrar a minha alma. Sem ela...
Não me ouviram e eu também deixei de os ouvir.


(continua)

8 comentários:

Anónimo disse...

Acuso-me...
Agora diga lá, porquê essa mudança tão profunda no texto?

Marta Lopes disse...

Acusa-se como?!Tem a certeza?! Em relação ao texto, ela optou pela reviravolta. Era o momento certo.

Anónimo disse...

Momento certo... Pois.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Marta Lopes disse...

Para tuda na vida, há um momento cert. Dificil é saber qual é o momento certo de agir ou não (agir).
Não concorda?

Anónimo disse...

Você é que sabe.

Anónimo disse...

Então?! Mais nada?!

ContorNUS disse...

obrigada pela partilha ;) voltarei