II



II.


Na rua pairava o cheiro do pão quente. Em outros dias, agradava-me mastiga-lo, hoje enojava-me. Não me alimentava fazia dias.
Apanhei o autocarro. Estava completo.
Mulheres com crianças, miúdos vindos da escola, meninas bem maquilhadas, senhoras bem vestidas, rapazes de rastas, o motorista com ar cansado e eu, molhada, suja e de olhos vermelhos.


- Quer sentar? Uma senhora ofereceu-me o lugar. Engraçado. Era muito mais velha que eu, trazia consigo uma dúzia de sacos e cedeu-me o lugar. Deve ter ficado com pena do meu estado miserável, a miserável condição de ser humano em que me encontrava.
Acenei-lhe negativamente. Mesmo que lhe respondesse com a voz, ela não iria escutar. Os sons que o conjunto de vozes produzia era mais forte. O autocarro parou muitas vezes até chegar ao meu destino.
Toquei. Parou. Saí.



Não chovia, a estrada estava ainda molhada.
Pouca gente na rua. As lojas começavam a fechar, as luzes estavam já prontas para mais uma noite longa e eu lembrei-te.
Estava na hora de passar no hospital. Nunca mais lá fui desde aquele dia.
Nada ficou no lugar. Não voltei ao hospital, já devem ter perguntado por mim. Só curiosidade, não preocupação, eu sei.
Discutimos muito. Chorei. Choraste também. Implorei. Ajoelhei-me a teus pés, mas de nada adiantou. Tu estavas decidido.


(continua)

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