As noticias que leio no jornal impressionam - me.
Fazem a manchete com pais a violarem os filhos, mães que os deixam em casa sozinhos, vizinhos que se violentam entre si, jovens esfaqueados à porta de bares e discotecas. Todos os dias, o mesmo em cada jornal.
- Já leste isto? O meu marido exibe a página do jornal. Lembrei-me subitamente de uma professora que tive, que um dia nos confidenciou que a vizinha do lado não acreditava nas noticias macabras – «dizia ela que era pura ficção». Talvez fizesse sentido não querer acreditar, era melhor. Era bem melhor.
Não quis ler. Não quis acreditar também.
Não quis ler. Não quis acreditar também.
- Ainda que tente entender, não consigo. – continuou. Olhei-o e encolhi os ombros. Arrisquei – É melhor não entendermos, não pensar mais nisso, não achas?
Não me respondeu. Conheço-o. Vai pensar nisso o dia todo. Vai voltar ao assunto mais tarde. Talvez depois do jantar. E eu, eu não vou despachá-lo. Vou ouvi-lo atentamente e considerar todas as possibilidades que ele encontrar durante o dia. È assim que nos entendemos. Somos previsíveis. Adivinhamo-nos constantemente.
Hoje é feriado. Ainda assim, ele vai trabalhar.
Nunca gostei deste dia. È melancólico, triste. Venerar os que já cá não estão.
O medo de morrer apoderou-se de mim naquele momento.
Acontecia de vez em quando. Geralmente quando estava sozinha a pensar em nada em concreto, lá vinha aquela sensação desagradável. Às vezes entrava em pânico. – Calma, respira fundo e pensa noutra coisa. Não tenhas medo. Ele segurava-me na mão e com uma voz doce pedia que me acalmasse. Resultava sempre. Depois abraçava-me. Era o meu protector.
Mais tarde voltava a pegar no assunto. Devia estar a tentar perceber o meu problema. Falava dos meus sonhos, dos meus medos e depois dos meus desejos. Era agradável.
No final de cada conversa, sentia-me tão leve, tão descansada, que o medo de morrer já não fazia sentido.
Mais tarde voltava a pegar no assunto. Devia estar a tentar perceber o meu problema. Falava dos meus sonhos, dos meus medos e depois dos meus desejos. Era agradável.
No final de cada conversa, sentia-me tão leve, tão descansada, que o medo de morrer já não fazia sentido.
Hoje ele não estava aqui. Comecei a sentir-me mal. Tive frio, tive medo.
Fazes-me tanta falta.
(continua)
4 comentários:
Escreveu este texto antes ou depois de falar comigo?
É que eté fiquei confuso...
É que eté fiquei confuso...
Não julgo importante...
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