V


V


Sou uma pessoa de extremos.
Quando gosto, gosto muito. Quando não gosto, simplesmente detesto.
Não tenho ilusões. No meu mundo, respeitada por uns, odiada por outros.
Geralmente percebo à primeira se gosto ou detesto. E então no que toca ao ser humano, esta minha teoria ganha ainda mais sentido. Felizmente nasci com este dom (considero um dom). É na primeira conversa ou simples olhar que eu faço o melhor raio-x. Às vezes sofro com isto. Gostava de ser mais inocente.


Tenho poucos amigos. Na verdade, tenho só dois – o meu marido e a minha amiga Inês, que, atendendo à idade, é uma espécie de mãe para mim. Os verdadeiros amigos são uma espécie rara. Dois é um número razoável.



Já é tarde. O meu marido já chegou.
- Então querida, já dormiste tudo? Disse-o sem maldade e com um sorriso nos lábios. Era por isso que o adorava, dizia as coisas de uma forma tão natural, que me fazia sentir bem.
Não lhe respondi. Corri a abraça-lo. E depois chorei. Chorei muito.
Ele entendeu.
- São lágrimas de medo. Eu estou aqui, já passou.

Tinha passado. Já não tinha medo.


(continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Tem assim tanto medo?
E ele? Precisa assim tanto dele?